Imagens, Cores & Pensamentos

sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Histórias da minha história


Nas  narrativas sobre as origens do Partido dos Trabalhadores, o ato de fundação do partido é lembrado com orgulho e emoção. O encontro marcava um novo momento da esquerda brasileira, reunindo lideranças populares de todo o país, jovens sindicalistas como Olívio Dutra, Jacob Bittar e Lula; históricos militantes como Manoel da Conceição e Apolônio de Carvalho e intelectuais e artistas do porte de Lélia Abramo, Paul Singer, Sérgio Buarque de Holanda, Antônio Cândido e Mario Pedrosa. O local de fundação, no entanto, merece pouca atenção. O Colégio Nossa Senhora de Sion, localizado em Higienópolis, bairro de elite da cidade de São Paulo, é sempre mencionado en passant, como um detalhe a mais, tal como o horário ou o dia do ato…De toda forma, havia um (aparente) paradoxo no fato de um partido de trabalhadores ser fundado em um colégio tradicional da elite paulistana. O Colégio Sion foi criado em 1901 pela Congregação das Religiosas de Nossa Senhora de Sion, influente ordem religiosa internacional. Inicialmente voltado para o ensino feminino, logo se tornou conhecido como a “escola das meninas ricas da cidade”.  Apesar de suas origens, o Colégio Sion, desde os anos 1960, seria fortemente influenciado pela teologia da libertação e pela marcante presença do catolicismo progressista na cidade de São Paulo, sob a liderança do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. O colégio foi, por exemplo, a sede paulista do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (CEDI), importante organização de assessoria aos movimento sociais. Do ponto de vista pedagógico, a escola foi pioneira na adoção do Método Montessori, considerado uma forma de ensino humanista. Apolônio de Carvalho, histórico militante comunista que lutou na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa contra o Nazismo e que foi dirigente petista até 1987 comentou a atmosfera que envolvia o colégio no final dos anos 1970. A escolha do Colégio Sion para sediar a fundação do PT indicava os profundos vínculos entre o catolicismo progressista e o movimento político que deu origem ao partido. Também havia razões práticas. A localização central da escola facilitava o acesso e fornecia o conforto necessário para muitos dos convidados, vários deles políticos e intelectuais idosos. Mas havia igualmente estratégia política. A reunião no Colégio Sion dava respeitabilidade e prestígio a um partido de massas, que se pretendia aberto a todos os setores progressistas que reconhecessem o protagonismo dos trabalhadores.

O Colégio Sion representa simbolicamente um momento de abertura de parte das elites à ideia de que o Brasil precisava de um partido popular, que representasse os “de baixo”. No final dos anos 1970, a oposição policlassista à ditadura possibilitou um raro momento de convergência em torno da ideia de que só teríamos democracia com um sério enfrentamento das desigualdades sociais e com a ação autônoma das classes trabalhadoras. Não é por acaso que ao PT aderem personalidades importantes das classes altas. Um exemplo foi a ex-aluna do Colégio Sion, Marta Suplicy, que anos depois seria prefeita de São Paulo, deputada e senadora, além de ministra de Lula e Dilma. No mesmo sentido, podemos dizer que o rompimento de Marta com o PT durante o golpe de 2016 simboliza o atual fechamento das elites econômicas e políticas brasileiras à possibilidade de uma democracia que aceite o protagonismo popular.

Distante da efervescência política do final da ditadura, o Colégio Sion permanece como uma das mais importantes instituições de ensino da cidade. Seu prédio, projetado por Ramos de Azevedo, foi tombado como Patrimônio Estadual em 2016. Mas foi aquele histórico e entusiasmado encontro de militantes no dia 10 de fevereiro de 1980 que marcou para sempre o Colégio Sion como um fundamental lugar de memória dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros.


Publicado originalmente pelo Laboratório de Estudos de História dos Mundos do Trabalho, texto retirado do site https://fpabramo.org.br/2020/02/14/lugares-de-memoria-dos-trabalhadores-20-colegio-nossa-senhora-de-sion/.


Obs: Da união entre o médico Aristides Candido de Mello e Souza e de Clarisse Tolentino de Mello e Souza, nasceu Antonio Candido, em 24 de julho de 1918 na cidade do Rio de Janeiro.

Faleceu: em 12 de maio de 2017 aos 98 na cidade de São Paulo, era meu parente por parte de minha bisavó Maria Cândida de Mello e Souza.

Colégio Nossa Senhora de Sion: Minha mãe estudou lá e eu estudei do pré primário até o último ano do Colegial em 1972 quando me formei nesse mesmo auditório da foto.

Quanto a ser escola das meninas ricas da cidade, há controvérsias.🤔


Deixo este relato histórico para conhecimento de meus netos e como esclarecimento da foto abaixo.









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